terça-feira, 14 de junho de 2011

O NATAL DE PAPAI NOEL

Sentei-me ao lado de Alexandre Steffen, jornalista escritor dos jornais Fato Novo e Visão do Vale, 37 anos e pai de Mathias. Em minhas mãos, o formulário que havia feito para dar o pontapé inicial na entrevista, instantes antes. Delicadamente, ele pega no meu braço e diz: “Quer um conselho de alguém que já fez muito isso?” Hesitei um pouco, mas olhei para ele firme. “Converse comigo. Você anota o que foi preciso que na hora de escrever, tudo se encaixará.”
 Assenti com a cabeça.  
                       
-O natal é o ponto mais alto do ano para mim- disse Alexandre Steffen, quando o questionei sobre o trabalho voluntário plausivelmente realizado a cada natal, desde o início da década de 90.
Foi um inicio triste. Uma avalanche na cidade de Bom Princípio, pequeno município situado no Vale do Caí, onde reside e realiza sua estupenda boa ação, matou várias crianças, comovendo a população. Era pleno dia de Natal. No auge da juventude de seus 17 anos, a exemplo de seu pai, Alexandre vestiu-se pela primeira vez de Papai Noel,para entregar uma bicicleta na vizinha, a pedido da família. Na jovialidade de sua ação, tropeçou e caiu. – O tombo foi feio- recorda com os olhos distantes, e um canto dos lábios ligeiramente levantados, revelando o sorriso derradeiro. Mas isso não o fez desistir, e, ao contrário, com o passar do tempo, ganhou dois companheiros, André e Jocelito. Foi no ano de 1994, quando seu trabalho voluntariado ganhou novas dimensões. No primeiro ano foram somente balas, que fizeram a alegria das crianças. No segundo ano balas e bombons, provinhas de doações anônimas e da prefeitura que exaltavam o incentivo e apoio visível a esse trabalho.
- Paraíso, local mais recorrido para a distribuição de nosso trabalho voluntário, possui um nome contraditório, são famílias miseráveis, grandes, vivendo em palafitas. Assemelha-se muito ao inferno. Numas das casas, havia uma senhora grávida cercada de sete crianças, com seus olhinhos atônitos de curiosidade. A mais velha, de 14 anos, aguardava também, uma nova criança. Não hesitamos em deixar o rancho que havíamos feito, lá.-Declarou-me ele.
Ano após ano, com a proporção que semblante ação ganhava, também elevou-se o número de interessados em contribuir de alguma forma. – Certa empresa, em um natal que me recordo, levantou um orçamento para a fabricação de bolas de futebol, ao preço de R$ 1,70 a unidade. Foi uma euforia enorme, e neste ano foram confeccionadas 600 unidades. – ressaltou Alexandre, conferindo gestos a sua lembrança.
- Porém- continuou ele – o que não esperávamos, era o erro da divulgação dos preços das bolas. Elas, ao contrário do que se havia dito, não custariam R$ 1,70. A errata resultou num pulo para R$ 7,10, que levou assustadoramente a conta final. Como o dinheiro não deu conta da encomenda, investimos nosso 13º e boa parte do salário- contou, levantando essa como uma das maiores dificuldades enfrentada, nos anos de trabalho.
Contudo, o desânimo provindo deste ano que havia passado deu espaço ao um novo personagem: o Rotary Club. A entidade, que ajudou papai Noel, preencheu, além da esperança, o sentimento natalino com uma doação de R$ 4.OOO em brinquedos,somando R$12.OOO, em três anos.
- O Rotary Club contribui todos os natais desde então, e surgem cada vez novos membros, e cada vez novas empresas doando, além de brinquedos, roupas. - Alegra-se o dito bom velhinho, que neste caso, nem é velho.
            Nesses anos todos, sempre na véspera de Natal, ele se veste com a roupa vermelha, pega seu saco, se junta a seus dois companheiros, e saem no costumeiro Ford modelo A, de 1929, que não tenha dúvidas, chama a atenção. -Só não chamou mais atenção que o transporte da Padaria Balzan, de Bom Princípio mesmo, utilizado uma vez.
- De cima, eu gritava ‘ olha o cacetinho!’- Lembrando das histórias engraçadas que se desenrolaram nesses anos. –Já fui pego por um cachorro, rasguei a calça, me descuidei ao acenar e bati no estepe. Foi quando caí de cima do carro e dei cambalhota, arrancando largos sorrisos no rosto das pessoas. Foi o dia em que passei a ser conhecido como papai Noel malabarista. - Ele pausa para sorrir. - E passou-se 10 anos, até as pessoas descobrirem quem era o papai Noel de fato. Hoje me chamam carinhosamente de papai Noel Lexie- se ri Alexandre. E afirma que ama o que faz, mesmo sendo cansativo.  Tratam-se de 8 horas corridas para dar conta da demanda, que valem e compensam cada segundo. São entregas de presentes, de beijos, de abraços, algumas vezes lágrimas, e esperança.   
            - Mas não visito somente crianças, não. Já visitamos irmãs ermitãs, que viviam isoladas do resto da cidade, no alto de um morro, sem acesso a internet e nada. E viviam felizes assim, somente com a companhia uma da outra. Certa vez, uma vovó me pediu um abraço, da sacada da sua casa, mas ela mesma quis vim receber. Ao vê-la descendo as escadarias levei um choque. Com a bacia quebrada, ela vinha lentamente, se arrastando, degrau por degrau. Foi uma cena única, emocionante. Não tem o que falar diante disso. É nesse momento que percebemos a força do sentimento natalino, e a maneira que ele paira sobre as pessoas. - Reflete ele.
            -Também mexe com a gente ver crianças vestidas com a mesma roupa que haviam recebido no ano anterior, felizes, aguardando os brinquedos, e a chegada do papai Noel. –Completa, com um sorriso invejável. Ao sentir o desenrolar da história, o que mais me admirou no contexto todo foi perceber por si mesma que nada disso é feito esperando fama, ou algo em troca. Tão normal como cada um de nós, Alexandre só quer o melhor para os outros, ainda mais se essas pessoas precisam de um carinho, uma atenção a mais. A História de um homem comum, mas com um íntegro valioso, e muito interessante. 
Vanessa Preuss

Um comentário:

  1. As matérias estão todas muito bacanas. Interessantes mesmo. Pautas bem escolhidas, bem apuradas, um esforço grande. Parabéns! (Mas tem algumas vírgulas fora de lugar, depois falamos sobre isso). Fiquei em dúvida quanto a este fundo. Está bonito, mas dificulta um pouco a leitura. Abração
    Eduardo.

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