domingo, 12 de junho de 2011

MORTO FALA?

O seu nome de batismo era Guilherme, mas era conhecido na pequena cidade e redondezas pelo apelido de Méme. Lugar pequeno geralmente é assim, todo mundo é conhecido por algum nome esquisito e que não tem nada a ver com o verdadeiro. Filho de colonos italianos e com muitos irmãos, Méme logo teve que abandonar os estudos para trabalhar. Arrumou emprego na única fábrica de sua cidade, a de engarrafamento e distribuição de bebidas. Sua função era ser assistente do caminhoneiro que fazia a entrega da mercadoria.
Contudo, o contato com bebidas e automóveis não era exclusividade do seu trabalho. Méme também gostava de passar horas bebendo no boteco de sua vila. Uma vez, depois de tomar umas e outras, ao sair do bar ele avistou um fusca estacionado no outro lado da rua. Aproveitou que o veículo estava aberto e, mesmo sem ter noção alguma de direção arrancou fazendo muito barulho, deu a volta na quadra e ainda tentou dar carona para outro amigo, também bêbado. Enquanto isso, o dono do automóvel corria furioso atrás deles e a cidade toda acompanhava apreensiva o desenrolar dos fatos.    
Méme era um cara emblemático. Todo mundo que viveu na região de Santa Maria – RS, nas décadas de 60 e 70 tem alguma história interessante sobre ele para contar. E essas histórias são daquelas que passam de pai para filho e acabam virando lenda. Como a que aconteceu quando ele voltava, junto com seu companheiro de trabalho e com o caminhão cheio de garrafas, da cidade de Santa Cruz do Sul. No meio do caminho, o caminhão tombou num barranco por causa da chuva e os dois ficaram presos em baixo de dezenas de engradados. Fez-se um minuto de silêncio e então o companheiro de Méme perguntou:
- Tá vivo Méme?
- Eu sim e tu?
A obviedade da pergunta de Méme faz com que todos que sabem de sua história sempre se lembrem dele por causa deste fato. Afinal, se o companheiro dele estivesse morto não estaria falando com ele, não é mesmo? 
Thiele Wiest

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